Centro de Lutas Nelson Morimoto
CREF 124-E/SP
Apostila de Judô
1.1 – O JUDÔ
O treinamento de JUDÔ, não requer apenas o aprimoramento de técnicas bonitas e eficazes nas grandes competições. Envolve principalmente a formação espiritual do judoca, e esta preparação, que em hipótese alguma deve se separar da preparação técnica, e a soma desses dois fatores é que faz o verdadeiro judoca enfrentar com garra, tenacidade, lealdade, honestidade e bom senso todos os tipos de competições, dentro e fora do tatâmi. Isso fica bem caracterizado nas palavras do mestre, na sua definição do propósito da disciplina do JUDÔ: “O JUDÔ é o caminho, para a mais eficiente utilização da força física e espiritual, pelo seu treinamento de ataque e defesa, educa-se o corpo e o espírito. Tornando a essência espiritual do JUDÔ, uma parte do próprio ser. Desta forma será capaz de aperfeiçoar a si mesmo e contribuir com algo para valorizar o mundo, essa é a meta final da disciplina do JUDÔ.”
Isto é o que realça a verdadeira beleza e reveste de valor o JUDÔ como educação. Infelizmente essa formação espiritual, que deve ser intrínseca
no treinamento do judoca, não tomou parte do processo de evolução, pelo contrário, ficou retraída e em alguns casos até mesmo esquecida.
A partir dos objetivos citados pelo mestre JIGORO KANO, podemos sentir que algo mais profundo, que a simples arte de ataque e defesa, envolve o treinamento do JUDÔ, maneira pela qual penetramos na verdadeira essência dos ensinamentos do JUDÔ.
O JUDÔ, é filosofia de vida, e é obrigação dos mais experientes e especialmente daquele que assume o papel de professor, transmitir a todos que desejam trilhar nesse caminho.
Assim, não é correto pensar no JUDÔ, como uma simples arma de defesa pessoal ou puramente como um esporte de ganhar competições, mas acima de tudo como uma maneira de viver. É natural, que se pararmos para meditar, acabaremos comparando cada ato praticado dentro do tatâmi, no treinamento do JUDÔ, com um procedimento de nossa vida.
O praticante do JUDÔ, não deve ser, apenas um competidor ou bom esportista, mas necessita absorver o conteúdo filosófico do JUDÔ, e utilizá-lo na prática para atingir a condição de verdadeiro JUDOCA.
Deve entender que seguir o CAMINHO DA SUAVIDADE, é aprender a aceitar com naturalidade os fatores que facilitam e dificultam a nossa vida.
1.2 – CEDER PARA VENCER
- É aprender a respeitar o seu semelhante, com o mesmo respeito e sinceridade que faz a saudação REI (cumprimento);
- É aprender a ser humilde, com a mesma humildade que se executa os UKEMIS (amortecimento de quedas), caindo para se levantar;
- É aprender a ser perseverante, com a mesma perseverança que se pratica os UCHIKOMIS (treinamento para aperfeiçoar as técnicas);
- É aprender a ser justo com seus companheiros, com a mesma justeza necessária que deve ter o seu corpo para aproveitar o momento exato do KUZUSHI (desequilíbrio) do oponente;
- É aprender a ser firme, com a mesma firmeza de seus NAGUE-WAZA (técnicas de projeção), para assumir as responsabilidades que lhe couberem;
- É aprender a ser honesto e leal, com a mesma honestidade e lealdade de quando recebe o KACHI (vitória) no final de uma luta;
- É aprender a ser disciplinado, com a mesma disciplina que se concentra no momento do MOKUSSÔ (meditação);
- É aprender a ser puro, com a mesma pureza que estava seu espírito quando ouviu pela primeira vez ONEGAI-SHIMASSU (por favor), dos seus colegas.
Todo judoca, introduzindo no seu íntimo, os completos ensinamentos do JUDÔ, tem a sua forma de viver diferente, seja pela autoconfiança que transpira em sua alma, seja pelo respeito que dispensa as pessoas, seja pela certeza de estar num mundo bem melhor.
Este aprimoramento do judoca, que não é apenas físico e técnico, mas que ultrapassa os limites das palavras e atos materiais, faz com que ele como esportista, lute pelo seu intento, mas é capaz de aceitar com naturalidade, que a vitória e a derrota são unicamente, conseqüência de suas reais condições. Pois se não fosse assim estaria em desacordo com o princípio da suavidade.
Estas bases filosóficas, faz com que o JUDÔ, se caracterize como um verdadeiro esporte, muito disciplinado e admirado, no qual o confronto corpo a corpo conduz a um melhor entendimento entre as pessoas, atingindo assim seus objetivos de sociabilização, educação e de cultura física para o bem estar do homem e do mundo.
1.3 – O JUDÔ COMO AGENTE EDUCACIONAL
O JUDÔ não é apenas uma luta desportiva, ou um sistema invencível de ataque e defesa. Antes de mais nada é um processo de educar a mente, o corpo e a moral, portanto é EDUCAÇÃO.
Estão absolutamente errados aqueles que querem através do JUDÔ, se tornarem apenas valentes campeões, embora o JUDÔ seja um esporte de luta, seus objetivos vão muito além da competição, visa acima de tudo uma formação global do indivíduo portanto seu objetivo é nobre.
Através do JUDÔ, os educandos podem adquirir condições suficientes e necessárias para enfrentar os rigores do dia a dia, com alegria, naturalidade, disciplina, esforço e coragem. Entre as virtudes sociais estão a vivacidade, a modéstia, a pontualidade e a justiça. Juntamente com o progresso técnico é desenvolvido o sentido de autoconfiança, o que constitui a base do equilíbrio mental e emocional.
Sendo assim, a prática BEM ORIENTADA do JUDÔ, proporciona calma, paz de espírito, dignidade, compaixão e amor ao próximo, condições essenciais para uma vida próspera e coberta de satisfação.
Ao contrário do que muitos pensam, o aprendizado do JUDÔ é muito fácil e agradável, não é necessário possuir condições físicas excepcionais; por outro lado é imprescindível ter boa vontade, dedicação, perseverança e disciplina. Disse bem Koizumi, introdutor do JUDÔ na Inglaterra, quando afirmou: ” O aprendizado do JUDÔ, quando é realizado por professores dedicados e competentes, oferece meios para exercitar e recrear a mente e o físico, cultivando um equilíbrio harmonioso e global para a saúde da mente e do corpo, estimulando o ser humano a ser dono de seu próprio corpo, da sua mente e de suas emoções.”
1.4 – O JUDÔ COMO EDUCAÇÃO FÍSICA
O JUDÔ como Educação Física deve ser orientado pelos princípios anátomo-fisiológicos. Durante a infância, a Educação Física deve visar o desenvolvimento harmonioso do corpo da criança. Na fase adulta deve manter e melhorar o funcionamento de todos os órgãos, assegurando assim uma boa saúde.
A prática da Educação Física deve ser orientada por exercícios e jogos, levando-se em conta as limitações de cada aluno, nunca sobrecarregando
de forma exaustiva o organismo, o que poderá acarretar um prejuízo para o desenvolvimento do aluno.
De um modo geral as aulas devem conter atividades que estimulem o desenvolvimento cárdio-respiratório, a flexibilidade, a postura, a destreza e a força muscular.
As atividades devem ser divididas por fases do desenvolvimento do organismo do aluno, sendo assim divididos em:
- Educação Física elementar : destinados a crianças entre 04 a 13 anos mais ou menos, essas práticas são desenvolvidas entre ambos os sexos, onde se visa uma formação global da criança, não tendo como objetivo principal o treinamento desportivo ou seja a competição.
- Educação Física secundária : compreende grupos de alunos entre 14 a 18 anos mais ou menos, nesta fase há uma exigência maior do organismo, pois na fase da puberdade existe um desenvolvimento maior do corpo, onde ocorre as mudanças para uma fase adulta, é onde a Educação Física ajuda no desenvolvimento global do organismo.
- Educação Física superior : nesta fase entre 18 a 35 anos mais ou menos, é onde vemos o desempenho do atleta desportivo propriamente dito, onde se tem como objetivo a pratica do esporte como uma atividade competitiva ou simplesmente uma atividade de descontração.
- Educação Física de conservação : é a fase após os 35 anos, onde o único objetivo é a prática de uma atividade física de relaxamento e descontração.
Os limites acima enquadrados devem ser considerados apenas como indicativos.
1.5 – A ORIGEM DO JUDÔ
Os métodos de ataque e defesa que culminaram na sistematização das artes marciais, ocorreram somente em sociedades altamente desenvolvidas, como as antigas nações orientais, gregas e romanas, mas a gênese deste comportamento, certamente se encontra nos ancestrais do homem, que andavam munidos de paus e pedras, para defender a sua integridade e seu espaço, eram enfim um punhado de briguentos.
Agora, a transformação disso tudo em esporte é coisa recente. É o caso do Judô que tem pouco mais de um século. O Judô, é uma luta que se originou do Ju-jitsu, uma das mais antigas formas de lutas corporais. Para conhecermos a história do Judô, é preciso antes conhecer toda a trajetória do Ju-jitsu, dizem que tem suas origens a cerca de 2.500 anos atrás, na Índia, e que é uma conseqüência direta do advento do budismo.
Segundo esta tese, ou lenda, os discípulos do príncipe Sidharta Gautama, o Buda, em suas andanças pela Índia para a divulgação da religião, volta
e meia se deparavam com bandidos que viviam pelas estradas do país. Como conciliar o pacifismo do budismo com a necessidade dos monges de defenderem as suas integridade físicas dos bandidos? Então debruçados sobre uma questão pura e simples de sobrevivência, alguns monges desenvolveram noções de força e equilíbrio, centro de gravidade e alavancagem, e consequentemente atingiram uma notável compreensão
do sistema articulatório do corpo humano.
Foi assim que nasceram os golpes básicos do Ju-jitsu, a arte suave que os monges, desarmados, se defendiam dos perigos das estradas. Mais tarde com a divulgação do budismo para fora da Índia, essa arte se disseminou por outras regiões como o Tibete, o Ceilão e a Birmânia, até chegar ao Japão, onde veio realmente a denominar-se Ju-jitsu.
1.6- VELHAS HISTÓRIAS
Lenda e realidade, ninguém sabe exatamente onde termina uma e onde começa a outra na história do Ju-jitsu e consequentemente do Judô. Alguns textos mais antigos atribuem a criação do Ju-jitsu aos deuses Kashima e Kadori, que usavam de certos golpes para punir seus fiéis que cometiam algum tipo de falta.
Também conta-se a lenda de Nomino Sukune, um bravo e temível guerreiro que teria vivido cerca de 2.000 anos atrás, velhos pergaminhos contam as suas proezas. A maior delas, sem dúvida, teria ocorrido diante do imperador Sul-nin, quando Sukune, em poucos minutos, liquidou o arrogante Taimano Kehaya, que não conseguiu se defender dos golpes mortais do guerreiro Sukune.
Outra lenda conta que por volta de 1.650, um monge chinês, chamado Ching Gen Pin, idealizou alguns golpes terríveis e mortais denominados “tês”, e anos mais tarde, vivendo no Japão, teria ensinado esses golpes a três samurais inferiores (kachis), que espalharam seus conhecimentos a alguns discípulos e, estes se encarregaram de fundar diversas academias, que disseminaram a luta pelo resto do país.
Uma das lendas mais conhecidas sobre a origem do Ju-jitsu, conta que um médico japonês chamado Akiyama Shirobei, teria aprendido na China, onde morou alguns anos, uma luta chamado “Wou-chou”, que requeria grande esforço físico para a execução de alguns golpes. De volta ao Japão, Akiyama Shirobei, num dia de tempestade, observou que os fortes galhos de uma cerejeira quebravam com os fortes ventos e com o peso da neve, enquanto os finos galhos de um salgueiro simplesmente curvava não dando resistência ao vento e a neve, e logo retornava a posição de origem sem sofrer nenhum dano.
A partir desse princípio, “ceder para vencer”, ele começou a modificar os golpes mais duros, de modo que uma pessoa fisicamente menos avantajada, tivesse condições de executá-los e assim enfrentar e vencer os adversários mais fortes. Fundou então, a “Yohin Riyou”
(Escola da Medula do Salgueiro).
Durante o feudalismo japonês, consolidou-se um casta de nobres guerreiros, ligados por vínculos de tradição aos senhores feudais e ao imperadores, eram os “samurais”, que dedicavam suas vidas ao estudo e aprimoramento das artes marciais, a quem o Ju-jitsu, deve seu desenvolvimento e permanência na cultura japonesa.
Cada linhagem de samurais, em torno da qual se organizava uma academia de Ju-jitsu, desenvolvia seus próprios golpes e se especializavam em um determinado estilo de luta, algumas se aprofundavam mais no estudo de chaves de articulação, outras nas técnicas de projeção e assim
por diante. Não existia por tanto um Ju-jitsu padrão, havia casos em que os golpes eram mantidos em segredo absoluto, sendo transmitido somente a alguns discípulos muito especiais. Existiram várias academias famosas como a “Yoshin Riyou” e a “Takenouchi Riyou”.
O Ju-jitsu ganhou grande popularidade, não somente entre os samurais, mas entre o povo de uma modo geral, e teve o seu apogeu no século XVIII (1701 a 1800). O seu declínio foi na época do imperador Mutsu Hito (1.867 – 1.912), conhecido como a Era Meiji – A Renascença Japonesa – com a aproximação do Japão com o mundo ocidental, houve profundas modificações e os velhos costumes foram considerados ultrapassados, entre eles
o Ju-jitsu.
Além de tudo, o Ju-jitsu, era considerado uma arte anti-pedagógico, pois os combates eram realizados até a morte, e os alunos, grande parte crianças, aprendiam golpes baixos e mortais, levando-os a traumas irreversíveis.
1.7- O NASCIMENTO DO JUDÔ
Com a fase de decadência do Ju-jitsu, surgiu um jovem que na adolescência se sentia inferiorizado, sempre que precisava despender muita energia física para resolver algum problema, que mais tarde, em 1.882, modificaria o tradicional Ju-jitsu, unificando os diferentes sistemas, transformando-o
num poderoso veículo de Educação Física. Seu nome era JIGORO KANO.
Quem lhe ensinou os primeiros passos no Ju-jitsu foi o professor Teinosuke Yagui. Posteriormente, em 1.877, matriculou-se na “Tenchin Shinyo Ryou”, sendo discípulo dos mestres Hachinosuke Fukuda e Masatono Iso. A fim de melhor conhecer um outro sistema de Ju-jitsu, tempos depois, foi estudar na famosa “Kito Ryou”, com o mestre Tsunetoshi Iikubo.
Pessoa de alta cultura geral, JIGORO KANO era um esforçado cultor do Ju-jitsu. Procurando encontrar explicações científicas aos golpes, selecionou e classificou as melhores técnicas dos vários sistemas de Ju-jitsu. Estabeleceu normas a fim de tornar o aprendizado mais fácil
e racional. Idealizou regras para um confronto esportivo, baseado no espírito do “Ippon-shobu”(luta pelo ponto completo). Procurou demonstrar que o Ju-jitsu aprimorado, além de sua utilidade para defesa pessoal, poderia oferecer aos praticantes extraordinárias oportunidades no sentido de serem superadas as próprias limitações do ser humano.
Num combate, o praticante tinha como único objetivo a vitória, no entender de JIGORO KANO, isto era totalmente errado, uma atividade física deveria servir, em primeiro lugar, para a educação global do praticante. Os cultores profissionais do Ju-jitsu não aceitavam tal concepção. Para eles, o verdadeiro espírito do Ju-jitsu era o shin-ken-shobu (vencer ou morrer, lutar até a morte).
Por suas idéias, JIGORO KANO era desafiado e desacatado insistentemente pelos ” educadores” da época, mas não mediu esforços para alcançar
seu objetivo. Esse novo sistema desenvolvido por ele, foi denominado de “JUDÔ”. Não foi uma escolha casual, já que o termo Ju-jitsu pode ser traduzido por “Técnica da suavidade”, e a palavra Judô, é traduzido como “Caminho da suavidade”. JIGORO KANO pretendeu assim, não apenas trocar o nome, mas acima de tudo mostra que o seu novo sistema era uma filosofia de vida.
Em 1.898, em uma de suas conferências, JIGORO KANO, assim se pronunciou: “Eu estudei o Ju-jitsu não somente porque achei interessante, mas também porque compreendi, que seria um meio mais eficaz para educação do físico e do espírito.(…) Porém, era necessário aprimorar o velho Ju-jitsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a Educação Física ou para a moral, muito menos para a cultura intelectual.(…) Por outro lado, como as escolas de Ju-jitsu, apesar de suas qualidades, tinham muitos defeitos, eu concluí que era necessário reformular o Ju-jitsu, mesmo como arte de combate. (…) Quando eu comecei a ensinar, o Ju-jitsu, estava caindo em descrédito, alguns mestres ganhavam a vida organizando “espetáculos” entre seus alunos, através de lutas simuladas, outros se prestavam a serem artistas de lutas, junto com profissionais de outras modalidades de lutas.
Tais práticas degradantes, degeneravam uma arte marcial e isso me era repugnante. Heis a razão de ter evitado o termo Ju-jitsu e de ter adotado o termo “JUDÔ”, e para distinguir da academia “Jikishin Ryou”, que também empregava o termo Judô, denominei a minha escola de “JUDÔ KODOKAN”, apesar de soar um pouco longo.”
Em fevereiro de 1.882, JIGORO KANO, inaugurou a sua primeira escola, no templo budista “Eishô”, com uma área de treinamento de apenas 12 tatâmis, e em julho, matriculou-se, Tsunejiro Tomita, seu primeiro aluno. Após Tomita, matricularam também Yoshiaki Yamashita, Shiro Saigo e Sakujiro Yokoyama, esses quatro formaram “as quatro colunas de sustentação do Kodokan”.
1.8- A EVOLUÇÃO DO JUDÔ KODOKAN
Durante alguns anos, o idealizador do JUDÔ, atravessou uma fase difícil, principalmente pela falta de recursos financeiros para a manutenção da academia. Os mais temidos lutadores da época, impulsionados pela inveja, não se cansavam de desafiar os alunos de Jigoro Kano. Houve muitos
encontros memoráveis com o intuito de testar a eficácia do JUDÔ KODOKAN.
Certa feita um lutador, conhecido por Tanabe, vence os melhores alunos do Kodokan, tratava-se de um grande especialista em técnicas de asfixia (shime-waza), aplicadas no solo. Tão logo um judoca o projetasse, Tanabe encaixava-lhe uma técnica de asfixia. Dessas derrotas Kano aprendeu
uma lição. Era necessário aprimorar o JUDÔ nas técnicas de domínio (katame-waza), particularmente as desenvolvidas nas lutas de solo (ne-waza).
Tanabe foi o único lutador que conseguiu derrotar os alunos de Kano.
Os alunos do Kodokan tinham fama de serem imbatíveis. Por isso, eram insistentemente desafiados. Aquele que conseguisse uma vitória sobre um dos alunos do Kodokan, na certa cresceria em fama. Naquela época ainda, se utilizava o ” sistema de luta por desistência”. Um dos combates que ficou na história foi o de Shiro Saigo contra o mais temido lutador de Ju-jitsu da “Yoshin Ryou”, numa memorável luta que parecia interminável. A propósito de Shiro Saigo, foi escrito um belíssimo romance de aventuras, contando suas proezas no JUDÔ, com o nome de “Sugata Sanshiro”, inclusive serviu de enredo para vários filmes.
Mas foi só em 1.886, após uma célebre competição, contra várias escolas de Ju-jitsu, organizada pela polícia, que definitivamente ficou comprovado o grande valor do JUDÔ KODOKAN. O resultado dessa jornada constituiu-se num marco decisivo na aceitação do JUDÔ, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o JUDÔ KODOKAN.
Depois da célebre vitória de 1.886, como ficou sendo conhecida, o JUDÔ KODOKAN começou a progredir e expandir. A “fórmula” técnica do
JUDÔ KODOKAN foi complementada a partir de 1.887, enquanto a sua fase espiritual foi gradativamente elevada em busca da perfeição. Em 1.922, a Sociedade Cultural Kodokan foi inaugurada e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas ” SERYOKU ZEN’YÔ” (Máxima Eficácia) e “JITA KYÔEI (Prosperidade e Benefícios Mútuos).
Entretanto em 1.897, quando o Kodokan estava instalado em “Shimotomizaka”, possuindo uma área de 207 tatâmis, o governo funda uma escola nacional, que congrega todas as artes marciais, a “Butokukai”. Apesar de Jigoro Kano ter idealizado o JUDÔ, em pouco tempo a Butokukai tornou-se uma forte rival do Kodokan. Posteriormente, as escolas superiores e profissionais da Universidade de Tokyo fundaram uma outra entidade, a “Kosen”. Como é fácil de adivinhar , a Butokukai e a Kosen começaram a competir com o Kodokan.
O Kodokan tinha perdido a hegemonia, por outro lado, era o JUDÔ que ganhava novos praticantes. Jigoro Kano, com a finalidade de iniciar uma campanha de divulgação do JUDÔ, no ocidente, em 1.889, visita a Europa e os Estados Unidos, proferindo palestras e demonstrações.
Em 1.909, um fato marcante parecia devolver a hegemonia do JUDÔ KODOKAN. O governo japonês resolve tornar o Kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do JUDÔ estava tendo uma ótima aceitação. Como a mulher japonesa começou se entusiasmar pela prática do JUDÔ, em 1.923, o Kodokan inaugurou o departamento feminino.
Em 1.934, o Kodokan estava instalado em um prédio de três andares, ocupando uma área de 2.000 metros quadrados aproximadamente. Nessa época o JUDÔ começava a ser introduzido em quase todos as nações civilizadas do mundo, todavia no ocidente o nome Ju-jitsu ainda era usado embora, o nome de Jigoro Kano fosse citado.
Em 1.937, o Conselho da Indústria do Turismo, órgão do governo japonês, editava a tradução em inglês do primeiro livro escrito por Jigoro Kano,
denominado “JUDÔ”. Nesta obra o JUDÔ era abordado sob vários aspectos, inclusive havia inúmeras considerações sobre as técnicas de ataque
aos pontos vitais (ate-waza), mas não havia nenhuma linha escrita sobre as regras de competição.
Como em 1.938, o Japão começou a sentir a ameaça da guerra, os militares deram um valor especial às chamadas artes marciais, que começaram a ser praticadas em todo o país, com um real espírito guerreiro. A Butokukai, recebia alunos de todas as partes do Japão para o treinamento do Ju-jitsu, Kendô, Karatê e do Kiudô (arte de atirar flechas), com o objetivo de utilizá-los durante os combates da guerra.
Mas com o final da guerra e a derrota do Japão, todas as atividades que inspirassem o “bushido” (espírito guerreiro), foram proibidas pelos norte-americanos, inclusive o JUDÔ. Entretanto em 1.946, conhecendo o verdadeiro espírito do JUDÔ de Jigoro Kano, os professores foram autorizados a ensinar o JUDÔ, por não considerá-lo uma arte marcial perigosa, nas escolas e para às tropas americanas.
Em 1.948, é fundada a Federação Nacional de JUDÔ, iniciando assim os primeiros campeonatos em âmbito nacional, após a guerra. A Butokukai foi
definitivamente interditada e a Kosen, ficou subordinada ao Kodokan. Em 1.958, é inaugurado o novo Instituto Kodokan, denominado a Meca do JUDÔ, num edifício especialmente construído para a organização e a administração do JUDÔ, no Japão e no mundo, com um dojô de 500 tatâmis e seis outros menores, sendo três com 108 tatâmis e outros três com 54 tatâmis, que são utilizados para os mais diversos objetivos de ensino e treinamento, com departamento especial para crianças, mulheres, estudantes, competidores de alto nível e estrangeiros, além de abrigar dependências para a parte de administração, alojamento, restaurante totalizando 41 áreas específicas.
1.9- O JUDÔ PELO MUNDO
Fundado o Kodokan em 1.882, o JUDÔ encontrou no Japão um campo altamente propício a sua expansão, principalmente porque as artes marciais para uso real não despertavam mais interesse. então o JUDÔ supria a vontade do homem comum, do esportista principalmente, alastrou-se
rapidamente pelo território japonês, mas para atravessar os mares e chegar a outros cantos do mundo teve muitas dificuldades.
Jigoro Kano, após ter definitivamente implantado o JUDÔ no seu país poderia muito bem ter encerrado os seus trabalhos na divulgação dessa nova arte, mas achava que os benefícios do JUDÔ, não poderia ficar restrito a apenas uma localidade, e que todos poderiam usufruir dessa educação. Chegou a viajar diversas vezes para outros países proferindo palestras e demonstrações.
Mas não era nada fácil, entre 1.889 à 1.891 percorreu a Europa, realizando conferências e demonstrações, mas a receptividade era pouca, talvez pelo fato de não haver “dojôs” para realizar os treinamentos. Entre 1.902 à 1.905 esteve na China e seus esforços também não encontraram apoio, talvez pelo fato daquele país ser o berço de várias outros estilos de lutas.
Nos anos de 1.912 e 1.913, Jigoro Kano realizou viagens entre a Europa e os Estados Unidos, tendo encontrado na América o trabalho realizado pelo mestre Yoshiaki Yamashita e sua esposa Fudeko desde 1.902 com alguns resultados positivos. Após essa época inicial, o JUDÔ foi sendo
introduzido em vários países em teve boa aceitação pelos povos de várias culturas diferentes, tornando-se assim um esporte educacional praticado em quase todos os cantos do mundo.
1.10- O JUDÔ NO BRASIL
As referências do início do JUDÔ no Brasil são de 1.908 a bordo do navio “Kasato Maru”, com a chegado dos primeiros imigrantes japoneses. Mas os primeiros registros são da década de vinte com Tatsuo Okoshi, seguindo-se por Katsutoshi Naito, Sobei Tani, Ryuzo Ogawa e outros mais.
Por outro lado, tem também o crédito de ser o introdutor do JUDÔ no Brasil Mitsuyo Maeda conhecido como “Conde Koma”, que percorria o país na
década de vinte aceitando desafios e apresentações de lutas. No início o JUDÔ estava restrito somente as comunidades de japoneses, com o passar do tempo e a natural aproximação entre os imigrantes e os brasileiros, o JUDÔ, começou a ser introduzido em outros meios, mas sempre sendo confundido com o Ju-jitsu.
A partir de 1.925, houve um grande impulso no JUDÔ, com a chegada ao Brasil de alguns professores japoneses, como: Takagi Saigo, Tatsuo Okoshi, Geo Omori, Katsutoshi Naito, Yasuichi Ono, Sobei Tani, Ryuzo Ogawa entre outros. Com o esforço e dedicação desses e outros o
JUDÔ, rapidamente se consolidou como um dos esportes mais praticados do Brasil, consequentemente surgiram grandes competidores como: Kawakami, Hikari Kurachi, Augusto Cordeiro, Chiaki Ishii, Walter Carmona, Luiz Onmura, Douglas Vieira, Aurélio Fernandes Miguel, Rogério Cardoso Sampaio, Henrique Guimarães, Sebastian Pereira, Edinanci Silva, Daniele Zangrano, Tiago Camilo, Carlos Honorato e etc.
1.11- JIGORO KANO
Jigoro Kano nasceu em outubro de 1860, na província de Hyôgo, Japão, terceiro filho do casal Jirosaku e Mareshiba Kano. Perdeu a mãe aos dez anos de idade, mas sua influência de educadora dedicada foi sentida por toda a sua vida. Era uma época de grandes transformações no país.
Aos onze anos foi estudar em uma cidade grande, e aos quatorze ingressou numa escola dirigida por professores estrangeiros, como interno. Era um aluno brilhante e tornou-se líder da sala de aula, mas tinha um problema, era muito fraco fisicamente. E o seu desejo era ficar forte, pois volta e meia sofria agressões de outros alunos.
Em 1878, então com dezoito anos ingressou no curso de Letras da Universidade Imperial, hoje Universidade de Tokyo, estudou Filosofia, Política, Economia política entre outras matérias. O seu pai sempre o aconselhou a trabalhar pelo bem da coletividade, por isso aspirava ser político. Dedicou-se muito aos estudos, tinha o Inglês perfeito, e os seus cadernos eram carinhosamente cuidados. Nessa época começou a treinar o Ju-jitsu, estudava de dia e a noite freqüentava a academia, dedicando-se ao máximo.
Jigoro Kano que era uma pessoa muito inteligente, após muito treino e estudo começou a encarar o Ju-jitsu de uma outra maneira, achava que aquela simples forma de luta poderia ter uma utilidade muito melhor e começou a se aprofundar em pesquisas e estudos para transformar aquele
tipo de luta em Educação Física.
Na época de sua formatura, em 1881, seu entusiasmo pela política decresce. E se concientiza que a educação é a razão da sua vida, ficou mais uns tempos na Universidade para se aperfeiçoar melhor. Começou a lecionar Política e Economia política no Colégio de Pares, e seguindo o conselho de seu pai e especialmente o deixado pela sua mãe, resolveu aperfeiçoar o Ju-jitsu, em benefício do corpo e da mente, tornando-se
assim uma cultura para ser difundida pelo mundo inteiro.
Kano assimilou as técnicas de vários estilos de Ju-jitsu, eliminou os golpes contundentes e racionalizou os treinamentos e os seus objetivos, e ainda acrescentou novas técnicas para fundar assim o Novo Ju-jitsu. Como o Ju-jitsu naquela época estava marginalizado ele passou a chamá-lo de JUDÔ KODOKAN. Assim em 1882 nasce a primeira academia de JUDÔ, com apenas 12 tatâmis, no Templo de Eishôji no bairro de Shitaya, Kita-Inaritchô, na capital japonesa, com apenas nove alunos.
Mas como as estruturas do dojô (área de treinamento) eram muito precárias, acabaram tendo que desocupar o local, assim Kano construiu com muito sacrifício uma nova, mas pequena academia. Todos ficaram contentes por terem um novo local para treinamento, porém as dificuldades
foram aumentando, o salário de professor de Jigoro Kano dava muito bem para uma pessoa só, mas tinha que arcar com todas as despesas da academia mais o sustento dos alunos, que a maioria vinha de fora e escondido da família que não compreendia o espírito do JUDÔ. Tsunejiro Tomita, o primeiro aluno de Kano comentou uma vez que costumava pintar o chapéu do seu mestre com nanquim, para disfarçar um pouco o lastimável estado em que se encontrava.
Com empenho do professor Kano, o JUDÔ KODOKAN, vai se firmando e aos pouco progredindo, e após vária trocas de locais de treinamento, finalmente a sociedade japonesa começa a reconhecer o valor do novo esporte, até se firmar definitivamente por volta de 1897. De um simples
professor de colégio, aos poucos Jigoro Kano também vai sendo valorizado por seus superiores, e funda uma academia de JUDÔ no colégio em que leciona e tendo toda autonomia da diretoria para formar os jovens nobres do futuro. Mas a vida de Kano é corrida, leciona, faz preleções
e traduções e ainda ensina o JUDÔ.
Foi enviado à Europa pelo Governo, para observar a educação de vários países, regressando em janeiro de 1891 foi nomeado diretor do Quinto Colégio em Kumamoto, região de Kyushu, onde difundiu mais ainda o seu esporte. Depois de um ano e meio, retornou a capital, onde lecionou Literatura Inglesa na escola Koizumi Yakumo, onde teve como um dos seus alunos o escritor inglês Lafcadio Hearn que acabou casando com uma japonesa e se naturalizou japonês, este ficou muito impressionado dom os ensinamentos teóricos e práticos do JUDÔ, e publicou mais tarde um livro chamado “Sem Nada Forçar, Delicadamente, Vencer a Brutalidade”, baseado nos ensinamentos que adquiriu com o professor Kano.
Os alunos de Jigoro Kano destacaram-se nos campos da Ciência, Ensino, Política, Finanças e Funcionalismo. A educação tinha com base a etiqueta, trabalho e a formação moral, também é ensinado a frugalidade, o asseio e o companheirismo entre outras coisas. Jigoro Kano dava especial atenção a organização, então os alunos tinham horário para estudar as matérias da escola e do JUDÔ, faziam excursões de domingo, natação na praia no verão e outras atividades esportivas também.
Em 1893 Kano foi nomeado Conselheiro do Ministério da Cultura e diretor do Primeiro Colégio na capital, depois de apenas três meses chamam-no para assumir o cargo de diretor na Escola Superior de educação onde ficou até 1919. Com tanto empenho Jigoro Kano ficou conhecido com o “Pai da Educação Física no Japão”. E este trabalho acabou sendo reconhecido no mundo todo, em 1909 o Barão de Coubertin (o idealizador do Jogos Olímpicos da Era Moderna) convidou Kano para ser o primeiro delegado oriental a participar dos Jogos Olímpicos, sua fama já era reconhecida na Europa pela divulgação do JUDÔ por lá.
O JUDÔ, foi conquistando novas fronteiras, e vários diplomatas, embaixadores oficiais e outros foram ao Japão somente para aperfeiçoar o seu conhecimento sobre este novo esporte, entre eles o General Grant, que foi o décimo-oitavo presidente americano, os professores Ladd da Universidade de Yale e Hughes da Universidade de Cambridge, depois destes vieram outros professores das Universidades de Oxford e Columbia,
também veio o Conde Latour e Garland, então presidente e delegado do Comitê Olímpico Internacional.
Kano fez treze viagens ao exterior, sempre divulgando o JUDÔ e participando das organizações dos Jogos Olímpicos, até que na viagem de volta de uma assembléia do Comitê Olímpico Internacional realizada na cidade do Cairo, Egito, vem a falecer no dia 04 de maio de 1938, a bordo do navio Hikawa-Maru, vítima de pneumonia. A partir das Olimpíadas de Tokyo, em 1964 o JUDÔ foi incluído como modalidade olímpica.
1.12- O ENSINO DO JUDÔ
A Pedagogia a ser empregada no ensino do JUDÔ talvez tenha sido o primeiro grande desafio enfrentado por Jigoro Kano e seus companheiros quando da fundação do Kodokan, pois pretendendo eles que a nova arte fosse ensinada de modo racional, com métodos próprios e portanto, diferentes do então empregado, muitas coisas tiveram que ser mudadas, melhoradas, adaptadas e criadas quando necessárias. Portanto o nome Kodokan não é por acaso, o seu significado é:
- KO – Fraternidade;
- DO – Caminho;
- KAN – Academia ou Escola.
A tradução seria: ACADEMIA DO CAMINHO FRATERNAL.
E com base nessa fraternidade é que se tem o cuidado de manter a:
INTEGRIDADE FÍSICA:
Quanto a integridade física, podemos dizer que um professor sem as qualidades e conhecimentos necessários, muito pouco terá para ensinar ou ensinará errado, principalmente as técnicas de projeção (nague-waza), técnicas de domínio (katame-waza), ukemis (amortecimento de quedas) etc., levando ao aluno muito pouco conhecimento e uma margem muito grande de possibilidade de sofrer algum tipo de acidente, além de uma carga excessiva de atividades físicas que irá desgasta-lo e desencoraja-lo. Também a não observância dos limites do aluno iniciante, deixando que os mais graduados se aproveitem da sua inexperiência, não é certamente a melhor forma de ensino, a conseqüência disso tudo será uma deturpação dos princípios de comportamento, respeito e deveres e tornar-se-á num ambiente desorganizado, anárquico e anti-pedagógico em prejuízo aos alunos, ao JUDÔ, a escola e ao próprio professor.
INTEGRIDADE MORAL:
Sobre a integridade moral podemos dizer que o judoca pertence a uma classe de esportistas de elite, pela sua retidão, pelo seu comportamento, pela sua maneira de ser que exaltam e dignificam o nosso esporte, que o distingue dos outros. Um elemento sem essas mesmas qualidade fatalmente estaria pondo em risco o trabalho pioneiro de Jigoro Kano, toda a dedicação de professores, toda a tradição de mais de um século de existência, todo o idealismo daqueles que se dedicam com seriedade ao ensino, à prática e ao progresso do JUDÔ. Um elemento sem condição moral deve ser prontamente excluído por melhor que seja tecnicamente. Um professor sem pulso para colocar os seus alunos no caminho certo, estará contribuindo para a deformação moral dos mesmos.
INTEGRIDADE INTELECTUAL:
O intelecto de uma criança, do jovem e mesmo do adulto desenvolve com o estudo, com a convivência diária, com os bons exemplos e também com a prática sadia de esportes. É também obrigação do professor estimular, corrigir, aconselhar e ajudar os seus alunos para que os mesmos progridam e tornem-se homens de bem e úteis a sociedade. O professor pode e deve complementar a educação do aluno, já que a prática do JUDÔ leva comprovadamente a correção de distorções do caráter das pessoas que o praticam.
1.13- A ESCOLA
A escola também merece nossa atenção, pois suas instalações devem preencher alguns requisitos básicos. É bastante comum, principalmente nas
cidades pequenas e nas periferias das grandes metrópoles, encontrarmos instalações pobres, improvisadas, sem conforto, mas com pessoas interessadas e disciplinadas, o professor, rico em idealismo apesar da simplicidade, da singeleza e dos poucos recursos disponíveis, leva a sério o JUDÔ de Jigoro Kano cujo espírito é presente e cultivado. Devemos então reconhecer o esforço e a dedicação desse professor, não devemos nos esquecer que a primeira escola de JUDÔ era apenas de vinte metros quadrados.
Entretanto condene-se as instalações onde o desleixo, a falta de ordem e a falta de educação predominam. Condene-se também as academias ou escolas onde um aluno um pouco mais graduado faz as vezes do professor, porque este esta tratando de “seus negócios” particulares em horário de aula. Devemos evitar as academias onde a má vontade e o desinteresse estão presentes. A academia mesmo que modesta, deve ser limpa, arejada, acolhedora, organizada, o tratamento cordial e alegre e respeitoso entre os alunos e o professor, e entre as demais pessoas que participam da academia. Os alunos devem sempre estarem com as unhas cortadas e o corpo sempre asseado, o kimono ou judogui deve estar limpo, enfim deve-se dar especial atenção à higiene.
1.14- O ESPÍRITO DO JUDÔ
“SEIRYOKU ZENYO” – Máxima eficácia.
“JITA KYOEI” – Prosperidade e benefícios mútuos.
- Conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar.
- Quem teme perder já esta vencido.
- Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e sobretudo com humildade.
- Recebas um convidado com a mesma atitude que tens quando só, quando só mantenha a mesma atitude de quando recebes um convidado.
- Tenha cuidado com o que dizes e o que dizes, pratique.
- Quando Verificares, com certeza, de que nada sabes, terás feito o primeiro progresso no aprendizado do JUDÔ.
- Nunca te orgulhes de Ter vencido a um adversário, o que venceste hoje poderá derrotar-te amanhã. a única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância.
- O judoca não se aperfeiçoa para lutar, luta para se aperfeiçoar.
- O verdadeiro judoca é aquele que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam, paciência para ensinar o que aprendeu aos seus semelhantes e fé para acreditar naquilo que ainda não compreende.
- Ao testemunhar a boa ação de alguém, encoraje-se em seguir o seu exemplo.
- Uma pessoa pode parecer um tolo e no entanto não o ser. É possível que esteja guardando a sua sabedoria com cuidado.
- Praticar o JUDÔ é ensinar a inteligência a pensar com velocidade e exatidão e o corpo obedecer com justeza. O corpo é a arma cuja eficiência depende da precisão com que se usa a inteligência.
- A fraqueza é susceptível, a ignorância é rancorosa, o saber é a força da compreensão; aquele que compreende perdoa.
- Nas águas do rio da vida chega mais longe quem nada, como deve, quando deve e até onde deve.
- A modéstia é o alicerce de todas as virtudes. Deixe que teu próximo te descubras antes que te reveles à ele.
- Um coração nobre nunca projeta a si mesmo. Suas palavras são como jóias raras, dificilmente exibidas; mas de grande valor.
- Saber cada dia um pouco mais e usá-lo todos os dias para o bem, esse é o caminho do verdadeiro judoca.
1.15- SIGNIFICADOS DE ALGUMAS PALAVRAS USADAS NO JUDÔ
JUDÔ – Caminho da Suavidade ou Caminho da Flexibilidade
KODOKAN – Academia ou Instituto do Caminho Fraternal
DOJÔ – Academia, local de treinamento
JIGORO KANO – Nome do fundador do JUDÔ
JUDOCA – Aquele que pratica o JUDÔ
SHI-HAN – Mestre
SENSEI – Professor
SEITÔ – Aluno
DÔO-HAY – Colegas
SEMPAY – Colega mais graduado
KÔ-HAY – Colega menos graduado
OHAYÔ-GOZAIMASSU – Bom dia
KON-NITI-WA – Boa tarde
KON-BAN-WA – Boa Noite
OYASUMI-NASSAI – Tenha uma boa noite (despedida)
SAYÔNARA – Até logo
GÔMEM – Perdão, desculpa
ONEGAI-SHIMASSU – Por favor
ARIGATÔ-GOZAIMASSU – Obrigado
ITI – 01 SHITI(NANA)- 07 DYU-SAN – 13 DYU-KYU – 19 NI-DYU-GÔ – 25
NI – 02 HATI – 08 DYU-SHI – 14 NI-DYU – 20 NI-DYU-RÔKU – 26
SAN – 03 KYU – 09 DYU-GÔ – 15 NI-DYU-ITI – 21 NI-DYU-SHITI – 27
SHI(YON) – 04 DYU – 10 DYU-RÔKU – 16 NI-DYU-NI – 22 NI-DYU-HATI – 28
GÔ – 05 DYU-ITI – 11 DYU-SHITI – 17 NI-DYU-SAN – 23 NI-DYU-KYU – 29
RÔKU – 06 DYU-NI – 12 DYU-HATI – 18 NI-DYU-SHI – 24 SAN-DYU – 30
KIMONO OU JUDOGUI – Roupa para a prática do JUDÔ
WAGUI – Casaco, parte superior do kimono
SHITABAKI OU ZUBON – Calça, parte inferior do kimono
OBI – Faixa
TATÂMI – Acolchoado próprio para o JUDÔ
REI-HÔ – Formas de cumprimento ou saudação
KYOTSUKE – Atenção
REI – Cumprimento ou saudação
MOKUSSÔ – Meditação
RITSU-REI – Saudação em pé
ZA-REI – Saudação ajoelhado
UKEMI – Amortecimento de queda ou queda
TÊ-UKEMI – Treinamento de batida braço
YOKO-UKEMI – Queda para o lado
USHIRÔ-UKEMI – Queda para trás
MAE-UKEMI – Queda para frente
MAE-MAWARI-UKEMI OU ZEMPÔ-KAITEN-UKEMI – Rolamento com queda para frente
SHISSEI – Postura
RITSU-I – posição em pé
SEI-ZÁ – posição ajoelhado
ZAI – posição sentado
SHIZEN-TAI – posição natural
SHIZEN-HONTAI – posição natural fundamental
MIGUI-SHIZENTAI – posição natural direita
HIDARI-SHIZENTAI – posição natural esquerda
JIGÔ-TAI – posição de defesa
JIGÔ-HONTAI – posição de defesa fundamental
MIGUI-JIGÔ-TAI – posição de defesa direita
HIDARI-JIGÔ-TAI – posição de defesa esquerda
SHINTAI – Formas de movimentação
AYUMI-ASHI – Passo normal
SURI-ASHI – Passo normal arrastado (sem tirar os pés do chão)
TSUGUI-ASHI – Passo seguido
TAI-SABAKI – Movimento de esquiva
KUMI-KATA – Maneira de segurar, formas de pegada
MIGUI-KUMI – Pegada de direita
HIDARI-KUMI – Pegada de esquerda
AI-YOTSU – Pegada igual
KENKA-YOTSU – Pegada contrária
KUZUSHI – Desequilíbrio
TSUKURI – Preparo
KAKÊ – execução, finalização
MIGUI – Direita
HIDARI – Esquerda
MAE – Frente
USHIRO – Atrás
TORI – Executante ativo, quem aplica a técnica
UKE – Executante passivo, aquele que recebe a técnica
RENSHU OU KEIKÔ – Treinamento
UCHIKOMI-RENSHU – Treinamento de técnicas
KATA (KIHON RENSHU) – Treinamento de base
RANDORI – Treinamento livre
YAKUSSOKU-GUEIKÔ – Treinamento combinado
SHIAI-GUEIKÔ – Treinamento de luta, competição
RENRAKU-HENKA-WAZA – Técnicas em seqüência
KAESHI-WAZA – Técnicas de contragolpes
NAGUE-AI – Treinamento de projeção
SHIAI – Competição
TAIKAI – Campeonato
SHIAI-JÔ – Área de competição
SHIN-PAN-HÔ – Arbitragem
HAJIMÊ – Iniciar, começar
SOREMADÊ – Terminar, acabar
MATÊ- Parar
SONO-MAMA – Parar do jeito que está
YOSHI – Continuar
OSSAE-KOMI – Imobilização
TOKETÁ – Imobilização desfeita
HIKI-WAKE – Empate
TORIKESHI – Anulação da pontuação
IPPON – Ponto completo
WAZA-ARI – Meio-ponto
YUKÔ – Um quarto de ponto
KÔKA – Um oitavo de ponto
HANSSÔKU-MAKE – Penalidade = Ippon, desclassificação
KEIKOKU – Penalidade = Waza-ari
CHUÍ – Penalidade = Yukô
SHIDÔ – Penalidade = Kôka
1.16- CLASSIFICAÇÃO DO JUDÔ
NAGUÊ-WAZA – Técnicas de Projeção
- TATI-WAZA – Técnicas aplicadas em pé
a) TÊ-WAZA – Técnicas de mãos
b) KOSHI-WAZA – Técnicas de quadris
c) ASHI-WAZA – Técnicas de pernas
2. SUTEMI-WAZA – Técnicas de Sacrifício
a) MA-SUTEMI-WAZA – Técnicas de sacrifícios frontal
b) YOKO-SUTEMI-WAZA – Técnicas de sacrifícios lateral
KATAMÊ-WAZA OU NÊ-WAZA – Técnicas de Domínio
1) – OSSAE-WAZA – Técnicas de imobilização
2) – SHIMÊ-WAZA – Técnicas de estrangulamento
3) – KANSETSU-WAZA – Técnicas de chave de braço
KANSETSU-WAZA
1) NAGUE-WAZA
ASHI-WAZA KOSHI-WAZA TÊ-WAZA
O-SOTO-GARI O-GOSHI SEOI-NAGUE
OUCHI-GARI KOSHI-GURUMA IPPON-SEOI-NAGUE
KOUCHI-GARI HARAI-GOSHI ERI-SEOI-NAGUE
KO-SOTO-GARI UCHI-MATA SEOI-OTOSHI
KO-SOTO-GAKE UKI-GOSHI TAI-OTOSHI
SASSAE-TSURI-KOMI-ASHI HANE-GOSHI KATA-GURUMA
OKURI-ASHI-BARAI TSURI-KOMI-GOSHI SUKUI-NAGUE
HIZA-GURUMA SODE-TSURI-KOMI-GOSHI UKI-OTOSHI
O-SOTO-GURUMA USHIRO-GOSHI MOROTE-GARI
HARAI-TSURI-KOMI-ASHI UTSURI-GOSHI SUMI-OTOSHI
DE-ASHI-BARAI UTSUSHI-GOSHI TÊ-GURUMA
O-GURUMA KEN-KEN-UCHI-MATA KUCHIKI-TAOSHI
ASHI-GURUMA TSURI-GOSHI KIBISSU-GAESHI
KOUCHI-MAKIKOMI
MA-SUTEMI-WAZA YOKO-SUTEMI-WAZA RENRAKU-RENKA-WAZA
TOMOE-NAGUE YOKO-GURUMA OUCHI-GARI Para KOUCHI-GARI
SUMI-GAESHI YOKO-GAKE OUCHI-GARI Para SEOI-NAGUE
UKI-WAZA YOKO-OTOSHI DE-ASHI-BARAI Para O-SOTO-GARI
URA-NAGUE YOKO-WAKARE UCHI-MATA Para KOUCHI-GARI
TAWARA-GAESHI IPPON-SEOI-NAGUE Para KOUCHI-MAKIKOMI
OBI-TORI-GAESHI DE-ASHI-BARAI Para TAI-OTOSHI
SOTO-MAKIKOMI
HANE-MAKIKOMI
UCHI-MATA-MAKIKOMI
TANI-OTOSHI
KAESHI-WAZA
HANE-GOSHI Aplica USHIRO-GOSHI
OUCHI-GARI Aplica KO-SOTO-GARI
DE-ASHI-BARAI Aplica DE-ASHI-BARAI
KOSHI-GURUMA Aplica UTSURI-GOSHI
KO-SOTO-GAKE Aplica UCHI-MATA
MOROTE-GARI Aplica TAWARA-GAESHI
2) KATAME-WAZA ou NE-WAZA:
OSSAE-WAZA SHIME-WAZA KANSESTSU-WAZA
KESSA-GATAME KATA-JUJI-JIME UDE-HISHIGUI-UDE-GARAMI
KUZURE-KESSA-GATAME NAMI-JUJI-JIME UDE-HISHIGUI-UDE-GATAME
USHIRO-KESSA-GATAME GUIAKU-JUJI-JIME UDE-HISHIGUI-JUJI-GATAME
KUZURE-USHIRO-KESSA-GATAME OKURI-ERI-JIME UDE-HISHIGUI-WAKI-GATAME
YOKO-SHIRO-GATAME KATAHA-JIME UDE-HISHIGUI-HARA-GATAME
KUZURE-YOKO-SHIRO-GATAME TSUKOMI-JIME HIZA-GATAME
KAMI-SHIRO-GATAME HADAKA-JIME ASHI-GARAMI
KUZURE-KAMI-SHIRO-GATAME SANKAKU-JIME
TATÊ-SHIRO-GATAME NIGUIRI-JIME
KUZURE-TATÊ-SHIRO-GATAME SODE-GURUMA-JIME
MAKURA-KESSA-GATAME
KATA-GATAME
SANKAKU-GATAME
Carta de uma Criança aos seus Pais
Papai e mamãe, eu sou uma criança, me tratem como tal. Papai, quando eu vou mal na escola ou perco uma competição, o senhor só falta me bater; mamãe fica triste e eu me sinto culpado. Mas isto não está certo. Será que vocês só me amam quando eu venço?
O senhor pode ser gordo ou magro, fraco ou forte, rico ou pobre, feio ou bonito, valente ou covarde, que eu o amarei do mesmo jeito. O que o senhor quis fazer na sua infância e na mocidade e não conseguiu por favor, não queira que eu faça. Eu sou outra pessoa e não o senhor novamente crescendo. Oriente-me para que eu descubra o meu caminho. Não o trilhe por mim. Use sua experiência para me ajudar a vencer os obstáculos da vida, não os tire da minha frente.
Na minha derrota abrace-me e sorria, para que quando eu vencer sinta vontade de abraçá-lo e sorrir também.
Eu quero ser um campeão da vida.
SADAO FLEMING MULERO
(Grande amigo!!!!)
NOTA: Senhores pais, lembrem-se: Existem homens que são campeões esportivos ou que tem as profissões consideradas pela sociedade como as mais nobres, no entanto se sentem frustrados, infelizes, pois foram obrigados a seguir um caminho que não escolheram.
BIBLIOGRAFIA:
SISTEMAS E MÉTODOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA – Inezil Penna Marinho – Brasil – Brasipal LTDA.
TREINAMENTO DESPORTIVO – PROCEDIMENTO – ORGANIZAÇÃO – MÉTODOS – José Luís Fernandes – Brasil – E.P.U. – 81
JOGOS DE CORRIDA, DE LUTA E DE BOLA – Henrich Meusel – Alemanha – Ediouro – 83
PSICOLOGIA DA ADOLESCÊNCIA – Samuel Pfromm Neto – Brasil – Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais – 79
CADERNO TÉCNICO – DIDÁTICO DE JUDÔ – Carlos Catalano Calleja – Brasil – Ministério da Educação e Cultura – 84
JÚNIOR SÉRIES – Sato e Hashimoto – Japão – Baseball Magasine -92
LIVRO DE JUDÔ – DE PÉ – Louis Arpin – Canadá – Record – 70
LIVRO DE JUDÔ – NO SOLO – Louis Arpin – Canadá – Record – 71
JUDÔ PARA CRIANÇAS – Oswaldo Duncan – Brasil – Ediouro -79
JUDÔ -LUTA NO CHÃO – Oswaldo Duncan – Brasil -Edições de Ouro -79
A ARTE DO JUDÔ – Stanley Virgílio – Brasil – Papirus – 86
O JUDÔ EM AÇÃO – NAGUE-WAZA- Kazuzo Kudo – Japão – Sol – 67
JUDÔ PARA PRINCIPIANTES – Oswaldo Duncan – Brasil – Ediouro-79
MANUAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – JUDÔ – Carlos Catalano Calleja – Brasil – E.P.U. – 75
MANUAL DE JUDÔ – Keizi Minami – Brasil – Ed. Cosmos – 93
MANUAL DE JUDÔ – VILA SÔNIA – Massao Shinohara – Brasil – 80
UM SÉCULO DE JUDÔ DO KODOKAN – C.B.J. – 82
O PAI DA EDUCAÇÃO INTEGRAL – Eiko Suzuki – Brasil -83
KINDAI JUDÔ – Baseball Magasine – Japão – 91 à 95
ATITUDES ZEN – Marcelo de Holanda de Andrade – Brasil – 87
DEZ ANOS DA ASSOCIAÇÃO DE JUDÔ MATA SUGIZAKI – Mateus Sugizaki – Brasil – 83
CARTA DE UMA CRIANÇA A SEUS PAIS – Sadao Fleming Mulero – Brasil – 86